Enquanto os holofotes e os salários milionários se concentram no futebol masculino, jogadoras brasileiras convivem com baixos salários, contratos instáveis e falta de estrutura para exercer a profissão.
Jogar futebol profissional no Brasil é o sonho de muitos, mas a realidade muda drasticamente quando quem sonha é uma mulher. Em um país onde o futebol é paixão nacional, os bastidores mostram que a igualdade de gênero ainda está longe de ser alcançada, especialmente quando o assunto envolve salários, estrutura e reconhecimento. Ser jogadora profissional custa caro, e não apenas financeiramente.
A diferença salarial já começa nos vencimentos. Um levantamento da CBF divulgado em 2022 revelou que 87% das jogadoras brasileiras ganham até dois salário mínimos por mês, enquanto o salário médio dos jogadores homens da Série A gira em torno de R$ 300 mil mensais. A diferença chega a ser mais de 10 mil por cento em alguns casos.
Além da remuneração direta, os clubes femininos também enfrentam limitações estruturais. Muitas equipes ainda treinam em campos improvisados, dividem espaços com outras categorias e não contam com comissão técnica completa. Enquanto os times masculinos possuem departamentos de fisiologia, nutrição, análise de desempenho e psicologia esportiva, muitas jogadoras sequer têm acesso a acompanhamento médico regular.
Outro ponto que pesa é a ausência de contratos duradouros. Grande parte das atletas assinam contratos curtos, com validade apenas durante os meses do campeonato, ficando sem renda e sem garantia de trabalho no restante do ano. Isso obriga muitas delas a conciliarem a rotina de treinos e jogos com outras fontes de renda, como empregos informais ou trabalhos em escolas e academias.
No que diz respeito à visibilidade, a disparidade também é evidente. Um estudo do Ibope Repucom apontou que, em 2021, apenas 4% das cotas de patrocínio esportivo no Brasil foram destinadas ao futebol feminino. O espaço na mídia também é reduzido. As transmissões são escassas, as partidas recebem menos tempo de cobertura e as jogadoras raramente aparecem em campanhas publicitárias.
Esse ciclo de invisibilidade e falta de investimento cria uma barreira difícil de romper. Com menos dinheiro circulando, há menos desenvolvimento técnico, menos formação de base, menos interesse de patrocinadores e menos identificação do público. As atletas, mesmo com talento de sobra, precisam se provar o tempo todo para ter o mínimo de espaço que seus colegas homens já recebem desde as categorias de base.
Apesar dos desafios, o futebol feminino brasileiro tem mostrado evolução. O Campeonato Brasileiro Feminino vem ganhando força nos últimos anos, e os clubes da Série A masculina passaram a ser obrigados a manter uma equipe feminina para disputar competições oficiais. Isso ampliou a quantidade de times e trouxe maior atenção para a modalidade, mas ainda é pouco diante da desigualdade histórica.
Ser mulher no futebol é enfrentar estatísticas injustas todos os dias. É treinar como profissional e ser tratada como amadora. É viver da bola e, muitas vezes, sem bola. Mas, mesmo diante dos obstáculos, as jogadoras seguem firmes, mostrando que o talento feminino é gigante — o que precisa mudar é o quanto estão dispostos a investir nisso.