Do preconceito à medalha: A evolução da seleção brasileira feminina em Olimpíadas

A trajetória da seleção feminina nas Olimpíadas é marcada por desafios fora e dentro de campo, revelando a força de um time que transformou invisibilidade em inspiração.

 

A seleção brasileira feminina de futebol precisou vencer muito mais do que adversárias em campo. A cada ciclo olímpico, o time carregou também o peso do preconceito, da falta de apoio e da falta de visibilidade. Mesmo assim, transformou desconfiança em orgulho nacional e construiu uma trajetória que merece e deve ser lembrada.

A primeira participação do Brasil em uma edição olímpica aconteceu apenas em 1996, nos Jogos de Atlanta. A estreia aconteceu 100 anos após a primeira Olimpíada da era moderna e 66 aos depois da fundação da Confederação Brasileira de Desportos. Isso já revela muito sobre a desigualdade histórica. Até então, o futebol feminino não era considerado digno de estar no maior evento esportivo do mundo.

Foto:Reprodução

Mesmo com pouco investimento e quase nenhum calendário competitivo, a seleção brasileira surpreendeu. Comandada por Zé Duarte, a equipe chegou à semifinal e terminou em quarto lugar, mostrando ao mundo que havia talento, resistência e muita vontade em campo. Foi ali que o Brasil conheceu jogadoras como Meg, Sissi, Pretinha e Roseli, nomes que abriram portas para gerações seguintes.

Em 2000, nos Jogos de Sydney, o Brasil mais uma vez terminou na quarta colocação. Apesar do bom desempenho, as atletas enfrentavam problemas estruturais: campos sem condições, treinos reduzidos e pouco apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ainda assim, continuaram lutando.

A primeira grande conquista veio em 2004, em Atenas, quando a seleção conquistou a medalha de prata. O feito histórico foi repetido em 2008, em Pequim. Ambas as finais foram contra os Estados Unidos, uma potência mundial da modalidade. O vice-campeonato não diminuiu o brilho da campanha brasileira, marcada por atuações memoráveis de atletas como Marta, Formiga, Cristiane e Daniela Alves. A seleção encantou o público, levou multidões aos estádios e consolidou sua imagem no cenário internacional.

Foto:Reprodução/Acervo O Globo

Mesmo com esse sucesso, a cobertura midiática ainda era tímida. Muitas transmissões sequer mostravam todos os jogos, e os horários não recebiam o mesmo destaque dado às partidas masculinas. A valorização do futebol feminino continuava sendo uma luta constante, mesmo com medalhas no peito.

Nas Olimpíadas seguintes, em Londres 2012 e Rio 2016, o Brasil parou nas quartas de final. Ainda assim, o desempenho das atletas seguiu sendo digno de aplausos. Em Tóquio 2021 (Jogos de 2020 adiados por conta da pandemia), o time foi eliminado nas quartas pela seleção do Canadá, que viria a ser campeã olímpica. O ciclo seguinte trouxe mudanças no comando técnico, com a chegada da sueca Pia Sundhage, e mais investimentos em estrutura, ainda que tímidos diante da realidade masculina.

Foto:Reprodução/CBF

A história da seleção olímpica feminina não se mede apenas pelas medalhas. Ela é marcada pela persistência em existir, em se manter relevante e em inspirar novas gerações. Em cada Olimpíada, o Brasil entra em campo com mais do que 11 jogadoras. Entra com o peso de uma luta por respeito, igualdade e reconhecimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *