Apesar dos avanços dentro de campo, a presença de mulheres na beira do gramado ainda enfrenta resistência. Treinadoras lutam por espaço, reconhecimento e respeito em um futebol que insiste em duvidar da liderança feminina.
No futebol, o banco de reservas é também um palco de comando, estratégia e decisão. Mas quem ocupa esse espaço nem sempre reflete a diversidade que se vê nas arquibancadas ou até mesmo dentro de campo. Quando a técnica é mulher, o olhar duvidoso é quase automático. Ainda hoje, ser treinadora no futebol brasileiro é lidar com desconfiança, subestimação e escassez de oportunidades.
Apesar do crescimento do futebol feminino e da presença cada vez maior de atletas nas competições nacionais e internacionais, o número de mulheres no comando técnico ainda é reduzido. Os clubes, em sua maioria, continuam apostando em homens, mesmo nas equipes femininas. A lógica que se impõe é clara: ainda se duvida da capacidade das mulheres de liderar, pensar taticamente e comandar vestiários.
Treinadoras como Emily Lima e Lindsay Camila, que já comandaram a Seleção Brasileira e o Internacional, respectivamente, são exemplos da competência que existe, mas também da resistência enfrentada. Quando assumiu a seleção principal em 2016, Emily se tornou a primeira mulher no cargo, mas não permaneceu nem um ano. Sua saída gerou protestos por parte das jogadoras, que demonstraram apoio público à técnica.

Além das barreiras institucionais, há também a cobrança em dobro. Quando um treinador erra, é questionado. Quando uma treinadora erra, sua competência inteira é colocada em xeque. É como se elas precisassem provar o tempo todo que sabem o que estão fazendo, mesmo quando os resultados falam por si.
A formação técnica também é um desafio. Muitas mulheres não têm acesso facilitado a cursos da CBF ou a redes de apoio dentro da gestão esportiva. A estrutura ainda é pensada e dirigida majoritariamente por homens, o que torna o avanço das treinadoras um percurso solitário e mais lento.
Mas mesmo diante dessas dificuldades, há quem resista. E mais do que isso, há quem transforme. As novas gerações de atletas, que cresceram vendo mulheres à beira do campo, já entendem que esse é um espaço que também lhes pertence. As escolas de futebol começam a formar meninas com ambições que vão além das quatro linhas. Sonham em ser jogadoras, mas também técnicas, dirigentes, preparadoras.
A presença de uma mulher à beira do gramado não é apenas uma escolha técnica. É um gesto político. É a lembrança de que o futebol não é feito só de quem joga, mas também de quem ensina, orienta, comanda e representa.