Entre salários baixos, pressão constante e falta de apoio, jogadoras lidam com um cenário que afeta não só o desempenho em campo, mas também a saúde emocional.
O futebol feminino brasileiro avançou em visibilidade, conquistas e espaço na mídia. Mas entre vitórias e troféus, ainda exista a fragilidade da saúde mental das jogadoras. Em meio a treinos exaustivos, cobranças intensas, salários baixos e contratos instáveis, muitas atletas enfrentam um desgaste emocional silencioso que compromete não apenas o desempenho em campo, mas também o bem-estar fora dele.
O tema da saúde mental no esporte é cada vez mais discutido em modalidades de alto rendimento, mas, no futebol feminino, essa conversa ainda engatinha. Um levantamento feito pelo Sindicato de Atletas Profissionais de São Paulo revelou que mais de 70% das jogadoras do estado vivem com salários inferiores a dois salários mínimos. Além disso, muitas não contam com estrutura adequada de acompanhamento psicológico, nem em clubes, nem nas categorias de base.
Em um ambiente historicamente masculinizado, as atletas lidam com mais do que o peso do desempenho. Precisam enfrentar julgamentos constantes, cobranças estéticas e questionamentos sobre sua capacidade profissional. Mulheres treinadoras, fisioterapeutas e jogadoras relatam episódios frequentes de assédio moral, pressão psicológica e sentimento de solidão.
A ex-jogadora e psicóloga Camila Rocha explica que muitas atletas chegam aos consultórios em estado avançado de ansiedade e exaustão. Segundo ela, o medo de demonstrar fragilidade ainda é muito presente. “Elas foram ensinadas a resistir, a aguentar tudo caladas. Isso cobra um preço alto quando não existe rede de apoio”, afirma.
O problema também atinge jovens atletas em formação. Muitas iniciam suas trajetórias enfrentando preconceito em casa, falta de incentivo e ausência de suporte psicológico nas categorias de base. Sem acompanhamento adequado, essas meninas carregam traumas para a vida adulta, o que compromete não apenas a carreira, mas também a saúde emocional.
Mesmo entre as profissionais, são poucas as que se sentem à vontade para falar publicamente sobre o assunto. O receio de retaliações ou de perder espaço no elenco ainda é forte. Recentemente, algumas atletas começaram a relatar, de forma anônima ou em entrevistas, casos de depressão, insônia e crises de pânico, alertando para a necessidade urgente de mudança.
Por outro lado, alguns clubes com estrutura mais consolidada passaram a incluir psicólogos em suas comissões técnicas. Projetos sociais e coletivos de atletas também vêm se organizando para oferecer suporte emocional e discutir saúde mental com mais naturalidade. Embora ainda pontuais essas ações indicam um movimento necessário de transformação.